Do Estadão Opinião.
No mesmo dia em que tomou conhecimento do escabroso volume de
dinheiro sujo usado pela Odebrecht para, no dizer do ministro Herman Benjamin,
do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), “apropriar-se do poder público”, o País
foi apresentado ao resultado negativo do Produto Interno Bruto (PIB) de 2016.
Poderiam ser dois dados estanques que apenas por uma infeliz coincidência
vieram à luz ao mesmo tempo. Mas não são. Está-se diante do mais eloquente
painel do desastre que representou o governo do ex-presidente Lula da Silva, um
tétrico quadro dos males infligidos aos brasileiros pelo lulopetismo.
É este o verdadeiro legado de
Lula – a pior recessão econômica desde 1948, quando o PIB passou a ser
calculado pelo IBGE, e uma rede de corrupção sem precedentes, cuja voracidade
por dinheiro público parece não ter deixado incólume sequer uma fresta do
Estado Democrático de Direito.
Em depoimento prestado ao TSE
no processo que apura o abuso de poder econômico da chapa Dilma-Temer na última
eleição presidencial, Hilberto Mascarenhas Filho, ex-executivo da Odebrecht,
afirmou que entre 2006 e 2014 a empreiteira destinou US$ 3,4 bilhões – mais de
R$ 10 bilhões – para o financiamento de campanhas eleitorais por meio de caixa
2 e para o pagamento de propinas, no Brasil e no exterior, como contrapartida
ao favorecimento dos negócios da empresa por agentes públicos.
Igualmente grave foi a
divulgação da queda de 3,6% do Produto Interno Bruto no ano passado, embora
este resultado já fosse previsto pelo mercado. Em 2015, a retração da atividade
econômica havia sido ainda mais expressiva – 3,8% –, de modo que os dois últimos
anos representaram um encolhimento de 7,2% da economia brasileira. Considerando
o crescimento da população no período, em média, os brasileiros ficaram 11%
mais pobres no último biênio.
Lula é corresponsável pelos
crimes cometidos por Dilma Rousseff, que, com justiça, lhe custaram o cargo.
Mais do que uma escolha, Dilma foi uma imposição de Lula ao PT como a candidata
do partido nas eleições de 2010. Jactava-se Lula de ser capaz de “eleger até um
poste”. De fato, elegeu um, que tombou deixando um rastro de destruição.
Estivesse verdadeiramente
imbuído do espírito público que anima os estadistas que escrevem as melhores
páginas da História, Lula poderia ter conduzido o País na direção daquilo que
por muito tempo não passou de sonho. Nenhum governante antes dele reuniu apoio
popular, apoio congressual – hoje se sabe a que preço –, habilidade política e
uma conjuntura internacional favorável, tanto do ponto de vista macroeconômico
como pessoal. O simbolismo de sua ascensão ao poder era, a priori, um fator de
boa vontade e simpatia. Todavia, apresentado aos caminhos históricos que
poderia trilhar, Lula optou pelo próprio amesquinhamento, para garantir para
si, sua família e apaniguados uma vida materialmente confortável.
Cada vez mais enredado na
teia da Operação Lava Jato, Lula apressa-se em lançar sua candidatura à
Presidência em 2018. Como lhe falta a substância da defesa jurídica bem
fundamentada – tão fortes são os indícios de crimes cometidos por ele apurados
até aqui –, resta-lhe o discurso político como derradeiro recurso.