Tudo
muda. De um jeito, ou de outro, invariavelmente as coisas mudam.
Na
política, não é diferente.
Vi,
ou melhor, ouvi, diversas vezes, a expressão que inicia essa nossa conversa. As
situações, pessoas, coisas, nada permanece imutável. Não se atravessa o mesmo
rio duas vezes, e ouso até dizer que nem se fala com a mesma pessoa duas vezes.
Estamos em constante processo de mudança. As vezes evoluindo, as vezes
regredindo.
Nos
últimos meses tenho acompanhado de perto, ainda que de forma pouco
participativa, mais como um observador, do desenrolar dos acontecimentos que
vem modificando, de forma radical, a política no nosso pequeno município, o
nosso São Bento do Trairi.
Ouvindo
a “voz rouca das ruas”, e observando os gestos, o comportamento das pessoas,
vejo que “novos tempos” se iniciam na
nossa política. Velhos sistemas, como seria de se esperar, ainda teimam em
permanecer no comando. Utilizam-se dos velhos hábitos da tradicional política para
tentar se manter no poder. Tudo que é lícito (e por que não dizer, muitas vezes
não tão lícito assim) é utilizado de forma a garantir a permanência dos antigos
mandatários. Utilizam-se da discórdia, semeando conversas e plantando boatos.
São os últimos suspiros de uma forma ultrapassada de liderar: Liderar pela
submissão, pelo medo e pela utilização da máquina em favor de interesses
próprios Explorando a necessidade de quem, e para quem se deveria governar. Deuses.
Assim se achavam. Só não contavam eles com uma coisa: O povo.
“O
povo é massa de manobra. Utilizamos como queremos e como bem entendemos.” Ouvi isso algumas vezes de
determinada pessoa, ao se referir como pretendia (e como de fato fez) liderar a
política e os destinos deste pequeno município. Acontece que, depois de certo
tempo, tudo muda. A concepção do povo muda, os interesses mudam. O povo é
dócil, mas essa docilidade é quebrada quando a arrogância, o absolutismo e a
prepotência são utilizados como o chicote que maltrata as suas costas. As costas
do mesmo povo que entregou seus destinos, que acreditou e que depositou
confiança em determinado líder. Hoje, o povo se levanta.
Diante
disso, há uma só certeza: O poder que o povo outorga, é o poder que o povo
retira.
Vemos
um tradicional sistema político desgastado, estraçalhado. Ao pensar que era
absoluto, descuidou-se. No descuidar-se, errou. No erro perdeu-se. Ao governar
em benefício de poucos, esqueceu-se dos muitos que o elegeram. Hoje,
pergunta-se, na solidão política e no caminho do esquecimento: Onde erramos?
Erraram.
Erraram
quando pensaram que o poder de um
mandato, ou dois, ou três, ou quatro, ou dez, seria eterno. Erraram quando se
cercaram de “aliados políticos”, e não de amigos. Erraram quando trataram de
forma errada a coisa pública, que a própria definição a coloca como de todos, e
não de alguns. Erraram quando trataram mal, de forma desrespeitosa e muitas
vezes caluniosa, seus adversários. Erraram. E pagam pelo erro.
Quem
tinha tanto prestígio, quem achava que tinha poder ilimitado, acorda com a
bofetada seca e implacável da realidade: O poder pertence ao povo. E é o povo
que reclama de volta para si o poder que outorgou.
Aos
tradicionais, resta a realidade. Tentam continuar, mas sentem que o último
suspiro político se aproxima. Tentam se reorganizar, mas não há mais o que ser
organizado. Suas tropas debandaram, e os que resistem, por lealdade ou por
necessidade, estão de corpo e espírito quebrado, sem ânimo para a luta.
Saem
de cabeça baixa, pela porta lateral da história. Sem festas de despedida, sem
abraços emocionados, sem pompa. Nem muito menos circunstancia.
Apenas
saem. Num triste e melancólico apagar de luzes.
J.